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Discursos-->Internet - a quinta parede -- 10/06/2001 - 17:28 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Internet surgiu quando menos se esperava. Veio assim de supetão e foi logo mexendo com a gente. Apareceu como uma garoa fina e logo se transformou numa torrente de sentimentos inesperados e fascinantes.
No início era tudo novidade. As telas, as pessoas e o modo de falar - ou teclar. Ninguém tinha cara. Éramos todos umas simples palavras encadeadas de acordo com o modus-operandi de cada um. No longínquo ano de 96 ainda se dava telefone e e-mail publicamente. Não havia riscos, só novos prazeres. A confiança era uma questão de ética, de postura internética. Todos tinham fios de bigodes a honrar, até as mulheres - e não se tratava de buço. Havia tempo para tudo. As horas eram elásticas e o teclado farto. Trocávamos palavras como de fossem as últimas. Tudo como numa extrema-unção.
E foi-se espalhando, na base do diz-que-diz-que, na propaganda boca a boca. Não passávamos de salva-vidas, salvando-nos de nossas marés. Era um formigueiro que se formava aos poucos, terra a terra, segundo a segundo, tecla por tecla. Foram séculos que nos percorreram rápidos e longos, como num transplante de coração, idéias, tempo e espaço.
Mas bastou um duplo clique no mouse e chegamos aos píncaros da atualidade. A Net, como é chamada pelos mais íntimos, transformou-se num Coliseu. Cristãos sendo devorados por feras a cada dia, Césares e ditadores marcando suas fronteiras, cada qual com sua cruz. O tempo agora é medido em bytes por segundo. Os corações, antes vestidos com sedas, agora carecem de armaduras. O tempo urge e não há espaço para tanta euforia.
Veteranos e novatos aglomeram-se nos espaços que se oferecem. Gladiam-se com nicks e com palavras. Nunca houve tantas entrelinhas entre as pessoas. As verdades são rápidas e mutantes. As relações comemoram bodas que não passam de poucos segundos. É o apogeu do descartável e dos superlativos. Cada letra é conquistada a sangue e suor. Nunca a hipocrisia e a coerência andaram tão juntas e mescladas.
Você vale o que tecla e, ainda assim, é um mundo que nos fascina. A Net é mais tóxica que nicotina e monóxido de carbono. E ao mesmo tempo é irresistível como um bolo de avó. É contemporânea e ao mesmo tempo saudosa. Chega languidamente e nos deixa, como uma tortura dilatada. E no momento seguinte nos conquista com novos fascínios, como se parasse os relógios e abrisse extensas planícies a serem percorridas em lentos segundos.
E por mais que se queira teimar, ela pousou sobre nós como um manto de contato. Vicia ao primeiro toque. Ainda que prometa o oposto, você passará longas horas nos braços dela. Mesmo que venda sua alma, você não ficará um dia sequer sem vê-la.
Você vai jurar, chorar e abandonar, mas nunca poderá deixá-la, nem por um meio dia. Seu tempo já não se conta em horas, mas em acessos por segundo. Ainda que você se tranque em casa, seu espaço será infinito e devassável. Sua intimidade não mais será restrita a quatro paredes, porque você já não vive longe da tela - a quinta parede.
E ainda assim, a cada dia você estará de volta, como peregrino que entra em novas paragens. Por mais que tente mentir, age como um louco que busca a terra prometida. Você não tecla mais, antes implora em frases curtas.
Isola-se do mundo cada vez mais, mas se sente amparado por milhões de motivos. Ainda que queira dissimular, não vai controlar a expressão dos seus desejos, ganâncias e verdades. Não poderá evitar a exposição das suas mais íntimas vontades, nem das fraquezas e vaidades.
Esse novo tempo abre-se em espaços vazios a serem habitados. Somos todos continentes de emoções, que serão colonizados aos poucos. E depois abandonados novamente. Porque como antes, estamos lutando por mais espaço e mais tempo.
E somos todos insaciáveis...




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